quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Maria, porém, lutava com as páginas do seu diário para não perder sua alma.

Descobriu, para sua surpresa, que um em cada cinco clientes não estava lá para fazer amor, mas para conversar um pouco. Pagavam o preço da tabela, o hotel, e na hora de tirar a roupa diziam que não era necessário. Queriam falar das pressões do trabalho, da mulher que os traía com alguém, do fato de se sentirem sozinhos, sem ter com quem conversar (ela conhecia bem esta situação). No início, achou muito estranho. Até que um dia, quando ia para o hotel com um importante francês, encarregado de caçar talentos para altos cargos executivos (ele lhe explicava isso como se fosse a coisa mais interessante do mundo), ouviu do seu cliente o seguinte comentário: - Sabe quem é a pessoa mais solitária do mundo? É o executivo que tem uma carreira bem-sucedida, ganha um altíssimo salário, recebe a confiança de quem está acima e abaixo dele, tem uma família com quem passa as férias, filhos a quem ajuda nos deveres escolares, e que num belo dia recebe a visita de um tipo como eu, com a seguinte proposta: "Você quer mudar de emprego, ganhando o dobro?" "Esse homem, que tem tudo para sentir-se desejado e feliz, torna-se a pessoa mais miserável do planeta. Por quê? Porque não tem com quem conversar. Está tentado a aceitar minha proposta, e não pode comentá-la com os colegas do trabalho, pois estes fariam de tudo para convencê- lo a ficar onde está. Não pode falar com a mulher, que durante anos acompanhou sua carreira vitoriosa, entende muito de segurança, mas não entende de riscos. Não pode falar com ninguém, e está diante da grande decisão da sua vida. Você pode imaginar o que sente este homem?" Não, não era essa a pessoa mais solitária do mundo, porque Maria conhecia a pessoa mais sozinha da face da terra: ela mesma. Mesmo assim, concordou com seu cliente, na esperança de uma boa gorjeta - que veio. E a partir daquele comentário, entendeu que precisava descobrir algo para liberar seus clientes da pressão enorme que pareciam carregar; isso significaria uma melhora na qualidade dos seus serviços, e uma possibilidade de dinheiro extra. Quando entendeu que liberar a tensão da alma era tão ou mais lucrativo do que liberar a tensão do corpo, voltou a freqüentar a biblioteca. Começou a pedir livros sobre problemas conjugais, psicologia, política, e a bibliotecária estava encantada - porque a menina pela qual tinha tanto carinho desistira de ficar pensando em sexo e agora se concentrava em coisas mais importantes. Passou a ler regularmente os jornais, acompanhando, sempre que possível, as páginas de economia - já que a maior parte dos seus clientes eram executivos. Pediu livros de auto-ajuda - pois quase todos lhe pediam conselhos. Estudou tratados sobre a emoção humana - uma vez que todos sofriam, por uma razão ou por outra. Maria era uma prostituta respeitável, diferente, e ao final de seis meses de trabalho, tinha uma clientela seleta, grande, e fiel, e despertava a inveja, o ciúme, mas também a admiração das companheiras.

Onze Minutos -Paulo Coelho.

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